Sabe aquele tipo de filme que começa com uma ideia genial e faz a gente torcer pra que a execução esteja à altura? “O Preço do Amanhã” é exatamente isso. A premissa chama atenção logo de cara: em um futuro distópico, o tempo virou moeda. Literalmente. Cada segundo conta, e, no lugar de dinheiro, as pessoas compram tudo com horas de vida. Os ricos vivem “para sempre”, enquanto os pobres correm (literalmente) contra o relógio. Uma baita metáfora sobre desigualdade, exploração e os extremos do capitalismo.
O elenco tem alguns nomes de peso: Justin Timberlake, Amanda Seyfried e Cillian Murphy. E, apesar de todos entregarem atuações competentes, é Murphy quem mais se destaca, dando vida ao implacável “cronometrista” Raymond Leo, uma espécie de policial do tempo que impõe respeito só com o olhar. Ainda assim, falta profundidade emocional nos personagens. Eles até funcionam, mas não chegam a criar aquele vínculo mais forte com quem está assistindo. Timberlake segura bem como herói de ação, mas seu papel é meio genérico, sem grandes surpresas.
O grande mérito do filme está na construção do universo. A ambientação faz sentido, é convincente, e os detalhes ajudam a mergulhar nessa realidade onde tempo é literalmente vida. A história gira em torno de um operário pobre, prestes a morrer por falta de tempo, que cruza o caminho de uma jovem rica entediada com seus privilégios. Juntos, eles iniciam uma rebelião contra o sistema: um clássico “Robin Hood futurista”.
O problema é que o roteiro não mergulha fundo nas questões sociais e filosóficas que levanta. Dá pra sentir que havia muito mais a ser explorado. O resultado é um filme que desperta reflexões importantes, mas que parece parar na superfície, como se tivesse medo de ir além.
Andrew Niccol, o diretor, é conhecido por obras como “Gattaca”, “O Show de Truman” e “O Terminal”. E aqui ele volta a cutucar as feridas da sociedade com uma crítica bem direta ao nosso modelo econômico. Mesmo com falhas e algumas decisões narrativas duvidosas, ele consegue fazer a gente pensar e, talvez, enxergar o mundo de um jeito um pouco diferente. No fim das contas, “O Preço do Amanhã” não é perfeito, mas tem alma. É um filme que tenta, que provoca, que incomoda. E só por isso, já vale ser visto.
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