PUBLICIDADE
Ad 11

O que sobra quando tudo falta? Uma leitura sensível de ‘Mantra’, de Nando Reis 1k3n

O que sobra quando tudo falta? Uma leitura sensível de ‘Mantra’, de Nando Reis
Imagem: Reprodução/YouTube

Vivemos tempos em que tudo precisa ter um sentido. Cada gesto, cada escolha, cada o deve ser justificado com um propósito. Parece que estamos viciados em significado, e nisso, ironicamente, nos afastamos do que é mais essencial. É nesse cenário que “Mantra”, canção de Nando Reis em parceria com Arnaldo Antunes, aparece como um sopro de silêncio. Em meio ao barulho dos algoritmos e à gritaria da autoafirmação, ela ousa propor o contrário: o nada. E isso, hoje, é quase um ato de rebeldia.

Logo no verso de abertura – “quando não tiver mais nada” – somos confrontados com a perda. Mas não se trata de uma perda sofrida, e sim de um convite à entrega. É como se a música dissesse: só quando tudo cai, algo verdadeiro pode nascer. Num mundo onde só se valoriza o acúmulo e o sucesso imediato, “Mantra” oferece um caminho que vai na contramão: o da renúncia.

Essa lógica do desapego que a música propõe não é religiosa no sentido tradicional, nem tampouco alienada. É quase um gesto político. Um manifesto contra o culto ao “ter” em favor ao culto do “ser”. A canção mistura a serenidade do Oriente com a inquietação do pensamento ocidental. E quando Nando canta que “o seu coração acordará”, parece provocar: será que não estamos todos dormindo, hipnotizados por promessas que nunca se cumprem?

A repetição do mantra “Hare Krishna” soa como um resgate da força sonora que esse cântico teve na contracultura dos anos 1960, mas agora repaginado, com um pé na espiritualidade e outro na crítica ao consumo de sentido, para nos lembrar do que esquecemos no meio do caminho.

PUBLICIDADE
Ad 13
PUBLICIDADE
Ad 14

E há também ali algo de Nietzsche, de renascimento pela destruição. “Amor dará e receberá”, ele canta. E parece simples. Mas no meio do vazio que a canção propõe, é o tipo de frase que ganha peso. Quando não resta mais nada, talvez reste só o amor, aquele que sobrevive à queda do ego, à queda dos impérios, ao fim das certezas.

Prefeitura de Ouro Preto deve explicações claras do porquê de toda balbúrdia envolvendo gravação do DVD de Dilsinho

Prefeitura de Ouro Preto deve explicações claras do porquê de toda balbúrdia envolvendo gravação do DVD de Dilsinho 226934

Se compararmos “Mantra” com o discurso pronto dos livros de autoajuda e dos coaches de rede social, ela soa quase agressiva. Porque ela não vende promessas, não embala a dor em frases de efeito, não sugere cura em 10 os. Ela apenas existe como o silêncio entre duas palavras.

“Mantra” não quer ensinar, ela quer desinstalar. Não é sobre salvação, mas sobre entrega. E nessa entrega, talvez a gente finalmente ouça o que tem tentado falar dentro de nós há tanto tempo. Não é um hino de fé, é um altar provisório, onde só entra quem já topou perder tudo.

Assista ao clipe: