Por que 'Emilia Pérez' prometeu inovação, mas caiu em estereótipos?
Com uma história ousada sobre transição de gênero, "Emilia Pérez" se tornou um marco no cinema, mas também gerou críticas sobre estereótipos e sensibilidade cultural.
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O musical francês “Emilia Pérez”, dirigido pelo também francês Jacques Audiard, surgiu como uma proposta ousada de explorar questões de identidade e transformação em um contexto social complexo. Com 13 indicações ao Oscar, incluindo a histórica nomeação da espanhola Karla Sofía Gascón como a primeira atriz transgênero na categoria de “Melhor Atriz”, o filme se posiciona como um marco na representação da comunidade LGBTQIAPN+ no cinema. No entanto, sua recepção está repleta de controvérsias e questões éticas, envolvendo estereótipos culturais e escândalos pessoais.

A história acompanha um chefe de cartel mexicano que, após fingir sua morte, inicia uma transição de gênero e dedica sua nova vida a uma ONG que tem como objetivo encontrar cadáveres do crime organizado, em que ela fazia parte. Audiard tenta mesclar elementos de musical, drama e crítica social, buscando provocar reflexão, porém, apesar da originalidade, a execução do filme deixa a desejar. Desde sua estreia no Festival de Cannes, “Emilia Pérez” chamou atenção: conquistou o cobiçado Prêmio do Júri, assim também como o Globo de Ouro, onde venceu quatro das dez categorias em que estava indicado. No entanto, por trás dos holofotes, polêmicas começaram a surgir.

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Um dos principais pontos de crítica é a representação do México e de sua cultura. Muitos espectadores mexicanos se sentiram ofendidos pela forma como o filme retrata o país, perpetuando a imagem de uma nação dominada por cartéis e violência. Essa abordagem estereotipada gerou descontentamento e levantou questões sobre a responsabilidade cultural dos cineastas. O ator mexicano Mauricio Morales criticou no X/Twitter: “Quando os mexicanos dizem que um filme está retratando um México cheio de estereótipos, ignorância e falta de respeito, talvez… só talvez, acreditem nos mexicanos.”

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A escolha de Audiard, um diretor francês sem domínio do espanhol e que não escalou atrizes mexicanas para os papéis principais, intensificou as críticas, sugerindo falta de autenticidade e sensibilidade cultural. Além disso, as controvérsias envolvendo Karla Sofía Gascón complicaram a recepção do filme. A jornalista Sarah Hagi desenterrou publicações da atriz no X/Twitter, feitas entre 2021 e 2022, com comentários ofensivos sobre o islamismo, o caso George Floyd e a diversidade no Oscar. Essas postagens mancharam sua imagem e levantaram dúvidas sobre a escolha de elenco.

Apesar das polêmicas, “Emilia Pérez” aborda temas relevantes, como identidade, transformação e aceitação. O que falha é a tentativa de equilibrar essas intenções com uma representação cuidadosa e respeitosa das culturas e comunidades retratadas. Selena Gomez, que é americana de ascendência mexicana, mas que não fala espanhol, tem uma atuação desastrosa e completamente esquecível. Embora repleto de potencial e intenções nobres, “Emilia Pérez” se vê acorrentado em suas próprias controvérsias, oferecendo uma reflexão crítica sobre os limites entre a arte, a representação e a responsabilidade cultural. O público é desafiado a considerar não apenas a história contada na tela, mas também as histórias das pessoas e culturas que ela pretende representar.