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Crítica: ‘Dentro’, com Willem Dafoe, é imersivo e perturbador, mas limitado em sua complexidade dramática 4m24l

26/05/2025 às 13:09
Tempo de leitura
3 min
Imagem: divulgação
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“Dentro” (“Iside”) parte de uma premissa angustiante: Nemo, interpretado por Willem Dafoe (“Homem-Aranha”), um experiente ladrão de arte, se vê encurralado dentro de uma cobertura automatizada em Nova York após um assalto malsucedido. Ao invés de escapar com obras valiosas, ele se torna refém de um ambiente que, embora cercado de luxo e tecnologia, oferece condições cada vez mais inóspitas. Isolado do mundo exterior, sem o a água potável ou comida, Nemo enfrenta a degradação física e psicológica enquanto tenta encontrar uma saída. A proposta do longa é inverter a função do espaço de conforto e riqueza, transformando-o num campo de prova extremo para a resistência humana. 661v5z

Em tempos marcados pela desigualdade, pela solidão urbana e pelo culto ao consumo, o filme toca em temas interessantes, como o colapso do indivíduo diante de estruturas que prometem segurança mas revelam opressão. No entanto, a condução narrativa feita pelo estreante diretor grego Vasilis Katsoupis deixa pouco espaço para interpretações plurais. O arco de transformação de Nemo, de invasor a sobrevivente, é construído de maneira direta, com pouco incentivo à reflexão sobre a complexidade do personagem ou das relações entre arte, poder e isolamento.

A ausência de contrapontos ao protagonista ou de perspectivas alternativas contribui para esse enquadramento único. A crítica ao esvaziamento das relações humanas e à estetização da vida parece restrita ao espaço simbólico da cobertura. Comparado a filmes que utilizam o confinamento para gerar reflexão existencial ou social, como o brasileiro “A Jaula” (2022),  “Dentro” opta por um caminho mais visual do que conceitual. A presença de câmeras de vigilância, objetos de arte e automatizações residenciais ajudam a criar um universo esteticamente coerente, mas que poderia ser mais explorado em termos de discurso.

Ainda assim, confinado em um único cenário, o diretor consegue explorar variações de luz, som e temperatura para criar tensão constante. A deterioração do espaço acompanha o colapso emocional do protagonista, e Willem Dafoe sustenta a narrativa entregando um desempenho intenso. A torre improvisada com móveis de design e a progressiva destruição da ordem visual do apartamento funcionam como expressões físicas do caos interno. Mesmo com participação mínima de outros personagens, como a funcionária que aparece nos monitores, o isolamento permanece absoluto e sufocante.

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“Dentro” é um exercício estético de clausura que provoca desconforto e curiosidade. Embora sua força visual e a atuação de Dafoe sustentem o interesse até o fim, a falta de ambiguidade narrativa impede que o filme atinja seu pleno potencial simbólico. A obra permanece como um retrato sombrio da solidão contemporânea, mas que poderia ir além se permitisse ao espectador mais liberdade interpretativa.

Assista o trailer: