
O cinema brasileiro marca presença novamente no tapete vermelho do Festival de Cannes. Após o sucesso de “Ainda Estou Aqui” em 2024, o Brasil retorna à Croisette com “O Agente Secreto”, novo longa do cineasta Kleber Mendonça Filho, que teve sua estreia mundial neste domingo (18). O filme, estrelado por Wagner Moura e Maria Fernanda Cândido, foi ovacionado de pé após a exibição e concorre à Palma de Ouro, principal prêmio do festival. O resultado será anunciado no dia 24 de maio.
O Festival de Cannes é um dos mais prestigiados eventos do cinema mundial. Criado em 1946, o festival reúne cineastas, atores e profissionais da indústria de todo o mundo, com destaque para produções autorais e inovadoras. A Palma de Ouro é o maior reconhecimento do evento, concedido ao melhor longa da competição principal.
Ambientado em 1977, “O Agente Secreto” se a em Recife, em pleno período da ditadura militar. Marcelo (Wagner Moura), um especialista em tecnologia com um ado conturbado, retorna à cidade natal para tentar reconstruir a vida ao lado do filho. Contudo, a presença de um regime autoritário e o uso de tecnologias de vigilância o colocam no centro de uma trama de conspiração. O filme aborda temas como repressão política, identidade, família e dilemas morais.

No elenco, além de Moura, estão Maria Fernanda Cândido (como Elza) e Gabriel Leone (como Bobbi).
Com uma filmografia marcada por olhar atento às desigualdades brasileiras, Kleber Mendonça Filho tem consolidado uma estética própria. De “O Som ao Redor” a “Aquarius”, ando por “Bacurau” e “Retratos Fantasmas”, o diretor mistura realismo social, cinema de gênero e documentário para explorar os conflitos políticos e sociais do Brasil. “O Agente Secreto” mantém essa linha, agora em tom de thriller político.
Wagner Moura, que já brilhou em “Praia do Futuro” e mais recentemente no norte-americano “Guerra Civil”, fortalece sua presença no cinema internacional. Curiosamente, divide o momento com sua amiga Fernanda Torres — ambos atuaram juntos em “Saneamento Básico, o Filme” (2007) e agora foram indicados por trabalhos diferentes (“O Agente Secreto” e “Ainda Estou Aqui”).
No ano anterior, “Ainda Estou Aqui”, adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva, emocionou Cannes. Venceu dois prêmios: Melhor Atriz (Fernanda Torres) e o Prêmio do Júri. O filme abriu caminho para uma nova visibilidade do cinema nacional no circuito europeu e fortaleceu o prestígio dos filmes brasileiros que abordam a ditadura sob diferentes prismas, não como tema central, mas como pano de fundo para questões humanas como luto, memória e resiliência.
Com “O Agente Secreto”, Kleber Mendonça Filho reafirma o papel do cinema como instrumento de reflexão sobre o ado, o presente e as estruturas de poder que moldam a sociedade brasileira.
Veja um breve trecho do longa:

João Paulo Silva, nascido em Barueri/SP e bacharel em Letras pela Universidade Estácio de Sá, pós-graduado em Revisão de Texto e em Linguística e Análise do Discurso. Contato: [email protected]